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Resenha: Olhares que filtram - Rainer Cadete e Pietro Cadete (Mood)

em quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Eu quero ser maior que esses muros que construíram ao meu redor (...) 

(Pietro Cadete)


Olhares que filtram, de Rainer Cadete e Pietro Cadete, foi publicado pelo selo Mood da Editora Ciranda Cultural, lançado oficialmente na 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo em 2024.  Através de lembranças e experiências, pai e filho nos contam, quase como desabafo, as dores e medo de pertencer a uma sociedade onde o racismo se manifesta em várias camadas.


Rainer Cadete é um ator conhecido e respeitado pelo trabalho no teatro, televisão e cinema.  Pietro é um jovem talentoso, criativo e cheio de vida que encanta seus seguidores na Internet. Pai e filho, amigos e cúmplices.  Olhares que filtram mergulha no âmago dos desafios enfrentados por uma família multirracial e nos faz refletir sobre nosso papel dentro de uma sociedade preconceituosa e desigual.


Ninguém deveria podar ou questionar os sonhos de alguém. 

(Rainer Cadete)


A introdução da atriz, poetisa e cantora Elisa Lucinda nos dá a clara dimensão do problema do racismo no Brasil.  Qual o papel que cada um de nós exerce na sociedade?   Um texto que nos leva a refletir sobre as verdades históricas que se contrapõem com o que nos foi ensinado nas escolas.  Muitas vezes replicamos velhos erros sem perceber a gravidade de palavras e atos.  Quem nunca presenciou uma situação de racismo ou preconceito em uma sociedade onde as pessoas não respeitam mais o seu próximo?  Não cabe somente a indignação, é preciso engrossar o coro que reage a tantas situações inaceitáveis.  


(...) só somos iguais na diferença.  A gente é diferente, e tudo bem ser diferente. 

(Pietro Cadete)


Pietro sempre foi uma criança feliz, protegida pelo amor dos avós e pais, mas não demorou para surgirem os primeiros questionamentos sobre o seu lugar no mundo.  Rainer precisou seguir a voz do próprio coração e buscar ferramentas para lidar com muitas outras situações que surgiriam ao longo da infância e adolescência do filho.  Mesmo estudando nos melhores colégios e frequentando os melhores lugares, Pietro sempre enfrentou situações de abuso e discriminação, mesmo entre pessoas que deveriam protege-lo.


A obra transborda sentimentos diante das vivências de um pai branco e um filho preto.  Os contos são alternados entre Rainer e Pietro, onde cada um é guiado pelas próprias emoções.  Houve desabafo e medo, revolta e insegurança; mas também teve aprendizado, muito amor e coragem para enfrentar cada desafio ao longo do caminho.  Pietro, hoje com 17 anos, tem orgulho de suas raízes culturais.  Rainer sempre disposto a aprender, e assim vai vencendo as barreiras que ainda encontra.  Ver o filho crescer e conquistar seu próprio espaço é ter certeza de que o amor é capaz de vencer qualquer indiferença e preconceito.


Você grita, mas sua voz não reverbera.  Você implora, mas não é escutado.  Você se entrega diante do mundo, mas mesmo assim não é abraçado.  

(Pietro Cadete)


A discriminação pode surgir em situações aparentemente inocentes, em tom de brincadeira, mas a dor é igual a qualquer violência física, pois machuca a essência e a honra de cada um.  Ler os textos do Pietro é enxergar sua dor, é lembrar de tantas outras situações que chegaram até a mídia  e causaram revolta.  Mas cadê as punições?  Sem contar que a maioria dos casos nem chega ao conhecimento público!


Tive o grande prazer de conhecer pai e filho na Bienal do Livro de São Paulo esse ano.  Acompanho o trabalho do Rainer Cadete desde a novela Amor à Vida, com destaque para o inesquecível Visky nas duas temporadas de Verdades Secretas, e tantos outros trabalhos de sucesso.  O Pietro eu já seguia no Instagram, acompanhando suas postagens e lives.  Ambos foram tão atenciosos comigo, mesmo considerando que não era o dia do lançamento do livro deles, e nem mesmo eu havia comprado meu exemplar.   Aliás, tem foto, mas faltou o autógrafo, pois retornei para casa antes da sessão de lançamento de Olhares que filtram. O carinho e a atenção que tiveram só demonstra um pequeno reflexo das grandes figuras que tive a honra de conhecer mais intimamente através dos textos da obra.  O pai Rainer, o filho Pietro, dois grandes homens que, com certeza, contribuem para a construção de um mundo melhor.


(...) meu filho é meu coração que bate fora do meu corpo.  

(Rainer Cadete)


Com 96 páginas, folhas brancas, fontes grandes, Olhares que filtram consegue deixar sua mensagem com verdade e intensidade de forma simples e clara.  O projeto gráfico, a diagramação, assim como as ilustrações são de Natália Calamari que realizou um lindo trabalho, totalmente em sintonia com os textos.   A nós, cabe o dever de não ficar calado ao presenciar cenas lamentáveis de preconceito.  Unir nossa voz para desafiar qualquer tipo de discriminação é essencial para construir um futuro justo e melhor.


Boa leitura!


Acolher o olhar do outro é expandir.  Precisamos nos preocupar com a causa, lutar por ela.  Precisamos conhecer, fomentar e acima de tudo agir.  Antirracismo é ação!  

(Rainer Cadete)




Autores: Rainer Cadete e Pietro Cadete
Editora: Mood (Ciranda Cultural)
Páginas: 96
Edição: 1ª (2024)
ISBN: 9786583060266
Dimensões: 15,5 x 22,6cm



Sobre os Autores


Rainer Cadete


Desde muito jovem fui fascinado pela complexidade das relações humanas e pela riqueza das histórias que cada pessoa carrega. Minha carreira como ator me permitiu explorar diversas facetas da vida e da experiência humana, mas sentia que havia mais a ser dito além dos palcos e das câmeras. Escrever sempre foi uma paixão silenciosa, uma maneira de dar voz aos pensamentos que não conseguia expressar verbalmente. Foi assim que nasceu a ideia de escrever "Olhares que filtram". Inspirados por nossas vivências, Pietro Cadete e eu exploramos as nuances das dinâmicas familiares em contextos multirraciais, abordando tanto as dores quanto as belezas dessas relações. Para mim, este livro é um convite à reflexão, um chamado à empatia, e uma tentativa de contribuir para a desconstrução dos preconceitos que ainda permeiam nossa sociedade. Ao compartilhar estas histórias, espero que possamos abrir caminho para um futuro mais inclusivo e compassivo


Pietro Cadete


Filho de ator e de bailarina, me encantei pelas artes desde cedo. Tive a oportunidade de morar em diferentes lugares e absorver as essências locais. Em São Paulo, me apaixonei pela literatura, pela magia de ver com outros olhos e de viajar para outros mundos antes mesmo de terminar uma página. Aos 16 anos, fui para o Rio de Janeiro e fiquei fascinado com os palcos e a representatividade da voz. Participei de montagens teatrais na Casa de Cultura Laura Alvim, e em O Tablado. Juntei-me a diversos movimentos culturais em prol do hip-hop e participei de rodas de rima, como a Batalha do Engenhão e o Coliseu. Atualmente, aos 17, moro em São Paulo e estudo gastronomia no Instituto de Artes Culinárias Le Cordon Bleu. Acredito que cozinhar é um jeito lindo de demonstrar amor. O livro "Olhares que filtram" nasceu da inquietação de poeta que trago dentro de mim e da vontade de mostrar às pessoas o mundo visto pelos meus olhos.


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