Eu quero ser maior que esses muros que construíram ao meu redor (...)
(Pietro Cadete)
Olhares que filtram, de Rainer Cadete e Pietro Cadete, foi publicado pelo selo Mood da Editora Ciranda Cultural, lançado oficialmente na 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo em 2024. Através de lembranças e experiências, pai e filho nos contam, quase como desabafo, as dores e medo de pertencer a uma sociedade onde o racismo se manifesta em várias camadas.
Rainer Cadete é um ator conhecido e respeitado pelo trabalho no teatro, televisão e cinema. Pietro é um jovem talentoso, criativo e cheio de vida que encanta seus seguidores na Internet. Pai e filho, amigos e cúmplices. Olhares que filtram mergulha no âmago dos desafios enfrentados por uma família multirracial e nos faz refletir sobre nosso papel dentro de uma sociedade preconceituosa e desigual.
Ninguém deveria podar ou questionar os sonhos de alguém.
(Rainer Cadete)
A introdução da atriz, poetisa e cantora Elisa Lucinda nos dá a clara dimensão do problema do racismo no Brasil. Qual o papel que cada um de nós exerce na sociedade? Um texto que nos leva a refletir sobre as verdades históricas que se contrapõem com o que nos foi ensinado nas escolas. Muitas vezes replicamos velhos erros sem perceber a gravidade de palavras e atos. Quem nunca presenciou uma situação de racismo ou preconceito em uma sociedade onde as pessoas não respeitam mais o seu próximo? Não cabe somente a indignação, é preciso engrossar o coro que reage a tantas situações inaceitáveis.
(...) só somos iguais na diferença. A gente é diferente, e tudo bem ser diferente.
(Pietro Cadete)
Pietro sempre foi uma criança feliz, protegida pelo amor dos avós e pais, mas não demorou para surgirem os primeiros questionamentos sobre o seu lugar no mundo. Rainer precisou seguir a voz do próprio coração e buscar ferramentas para lidar com muitas outras situações que surgiriam ao longo da infância e adolescência do filho. Mesmo estudando nos melhores colégios e frequentando os melhores lugares, Pietro sempre enfrentou situações de abuso e discriminação, mesmo entre pessoas que deveriam protege-lo.
A obra transborda sentimentos diante das vivências de um pai branco e um filho preto. Os contos são alternados entre Rainer e Pietro, onde cada um é guiado pelas próprias emoções. Houve desabafo e medo, revolta e insegurança; mas também teve aprendizado, muito amor e coragem para enfrentar cada desafio ao longo do caminho. Pietro, hoje com 17 anos, tem orgulho de suas raízes culturais. Rainer sempre disposto a aprender, e assim vai vencendo as barreiras que ainda encontra. Ver o filho crescer e conquistar seu próprio espaço é ter certeza de que o amor é capaz de vencer qualquer indiferença e preconceito.
Você grita, mas sua voz não reverbera. Você implora, mas não é escutado. Você se entrega diante do mundo, mas mesmo assim não é abraçado.
(Pietro Cadete)
A discriminação pode surgir em situações aparentemente inocentes, em tom de brincadeira, mas a dor é igual a qualquer violência física, pois machuca a essência e a honra de cada um. Ler os textos do Pietro é enxergar sua dor, é lembrar de tantas outras situações que chegaram até a mídia e causaram revolta. Mas cadê as punições? Sem contar que a maioria dos casos nem chega ao conhecimento público!
Tive o grande prazer de conhecer pai e filho na Bienal do Livro de São Paulo esse ano. Acompanho o trabalho do Rainer Cadete desde a novela Amor à Vida, com destaque para o inesquecível Visky nas duas temporadas de Verdades Secretas, e tantos outros trabalhos de sucesso. O Pietro eu já seguia no Instagram, acompanhando suas postagens e lives. Ambos foram tão atenciosos comigo, mesmo considerando que não era o dia do lançamento do livro deles, e nem mesmo eu havia comprado meu exemplar. Aliás, tem foto, mas faltou o autógrafo, pois retornei para casa antes da sessão de lançamento de Olhares que filtram. O carinho e a atenção que tiveram só demonstra um pequeno reflexo das grandes figuras que tive a honra de conhecer mais intimamente através dos textos da obra. O pai Rainer, o filho Pietro, dois grandes homens que, com certeza, contribuem para a construção de um mundo melhor.
(...) meu filho é meu coração que bate fora do meu corpo.
(Rainer Cadete)
Com 96 páginas, folhas brancas, fontes grandes, Olhares que filtram consegue deixar sua mensagem com verdade e intensidade de forma simples e clara. O projeto gráfico, a diagramação, assim como as ilustrações são de Natália Calamari que realizou um lindo trabalho, totalmente em sintonia com os textos. A nós, cabe o dever de não ficar calado ao presenciar cenas lamentáveis de preconceito. Unir nossa voz para desafiar qualquer tipo de discriminação é essencial para construir um futuro justo e melhor.
Boa leitura!
Acolher o olhar do outro é expandir. Precisamos nos preocupar com a causa, lutar por ela. Precisamos conhecer, fomentar e acima de tudo agir. Antirracismo é ação!
(Rainer Cadete)
Sobre os Autores
Rainer Cadete
Desde muito jovem fui fascinado pela complexidade das relações humanas e pela riqueza das histórias que cada pessoa carrega. Minha carreira como ator me permitiu explorar diversas facetas da vida e da experiência humana, mas sentia que havia mais a ser dito além dos palcos e das câmeras. Escrever sempre foi uma paixão silenciosa, uma maneira de dar voz aos pensamentos que não conseguia expressar verbalmente. Foi assim que nasceu a ideia de escrever "Olhares que filtram". Inspirados por nossas vivências, Pietro Cadete e eu exploramos as nuances das dinâmicas familiares em contextos multirraciais, abordando tanto as dores quanto as belezas dessas relações. Para mim, este livro é um convite à reflexão, um chamado à empatia, e uma tentativa de contribuir para a desconstrução dos preconceitos que ainda permeiam nossa sociedade. Ao compartilhar estas histórias, espero que possamos abrir caminho para um futuro mais inclusivo e compassivo
Pietro Cadete
Filho de ator e de bailarina, me encantei pelas artes desde cedo. Tive a oportunidade de morar em diferentes lugares e absorver as essências locais. Em São Paulo, me apaixonei pela literatura, pela magia de ver com outros olhos e de viajar para outros mundos antes mesmo de terminar uma página. Aos 16 anos, fui para o Rio de Janeiro e fiquei fascinado com os palcos e a representatividade da voz. Participei de montagens teatrais na Casa de Cultura Laura Alvim, e em O Tablado. Juntei-me a diversos movimentos culturais em prol do hip-hop e participei de rodas de rima, como a Batalha do Engenhão e o Coliseu. Atualmente, aos 17, moro em São Paulo e estudo gastronomia no Instituto de Artes Culinárias Le Cordon Bleu. Acredito que cozinhar é um jeito lindo de demonstrar amor. O livro "Olhares que filtram" nasceu da inquietação de poeta que trago dentro de mim e da vontade de mostrar às pessoas o mundo visto pelos meus olhos.
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