Em todas as formas de brincar em folguedos, participar de festas religiosas e ganhar as ruas, os negros carregavam a relação com santos e orixás, um elo entre o samba e religião que nunca foi desfeito.
Orixás no Terreiro Sagrado do Samba - Exu & Ogum no Candomblé da Vai-Vai, da jornalista Claudia Alexandre, foi publicado em 2021 pelo selo Fundamentos de Axé da Editora Aruanda. O carnaval, um dos maiores espetáculos do mundo, mostra a sutil relação entre o samba e a religiosidade. A alegria da festa esconde o preconceito e a violência que ainda mancham e violam a essência de um povo.
A intolerância surge com o desconhecimento, com a não aceitação das coisas que, de alguma forma, se mostram diferentes da realidade criada por cada um. É necessário aprender a enxergar a vida por outros ângulos, perceber os fundamentos, descobrir novas culturas, e principalmente, respeitar a diversidade.
O livro apresenta um estudo sobre a relação do samba com as religiões afro-brasileiras. A autora explora, em panorama geral, o início da religiosidade africana no Brasil e os primeiros batuques que nos remetem ao samba como conhecemos hoje. Na época da escravidão, com uma cruel segregação racial, muito se fez para evitar as manifestações religiosas e culturais dos africanos.
Infelizmente o preconceito ainda existe, sendo visível em pequenos detalhes ou em graves situações. Sempre houve um enorme esforço para separar o samba, o batuque, a macumba e a capoeira. Isso ocorre por ignorância ou fanatismo, esbarrando em outras nuances de formação do caráter. A melhor arma para combater a discriminação é o conhecimento e a empatia.
A autora destaca em seu estudo a acolhedora e diversificada São Paulo e mergulha nos bastidores da Vai-Vai, uma das principais agremiações carnavalescas da cidade. O Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Vai-Vai foi quinze vezes campeão no grupo especial. A escola sempre preservou os valores religiosos de seus ancestrais, mas a forma de expor os rituais acabou sendo diferenciada a cada novo presidente.
Uma intensa pesquisa mostra desde o surgimento do samba até os grandes desfiles da atualidade, destaque em todo o mundo. A mistura de festas religiosas e profanas foi aos poucos moldando o carnaval como conhecemos hoje. Quando o carnaval se tornou um grande espetáculo da mídia, os detalhes foram adaptados para agradar o grande público, fazendo as apresentações perderem a espontaneidade inicial, diante da busca por patrocínios e a disputa pelo pódio.
A Vai-Vai nasceu como cordão carnavalesco em 1930. Seu Terreiro do Samba se localiza no tradicional bairro Bixiga em São Paulo. A escola nunca se afastou de sua essência, mesmo diante da diversificada crença de seus componentes e visitantes. Há discordâncias em manter a religiosidade tão abertamente ou de forma mais reservada. A religiosidade da Vai-Vai permite em seu espaço altares de santos católicos, assentamentos de orixás, festas afrorreligiosas e práticas rituais de candomblé, tudo convivendo de forma harmoniosa.
Além de trazer fatos curiosos sobre o samba, Claudia Alexandre reúne informações sobre Candomblé, Umbanda, Espiritismo e Catolicismo, mostrando os significados e ligações entre as religiões. Vale o destaque de dois grandes nomes femininos no carnaval da Vai-Vai, Dona Marcinha e Dona Nenê. Além disso, a autora traz em anexo o calendário de festas religiosas da Escola.
Com 208 páginas, folhas amareladas, fonte pequena e espaçamento confortável, Orixás no Terreiro Sagrado do Samba - Exu & Ogum no Candomblé da Vai-Vai, mostra de forma isenta que religiosidade e samba caminham juntos. A capa é linda com uma imagem do ilustrador Capim. O livro contém fotos em preto e branco de cerimônias, desfiles, eventos e integrantes da Vai-Vai. É um livro que indico, um material muito rico, que mostra que diante do glamour dos desfiles, o culto aos Orixás ainda se manifesta.
Boa leitura!
Orixás no Terreiro Sagrado do Samba - Exu & Ogum no Candomblé da Vai-Vai
Editora Aruanda
Selo: Fundamentos de Axé
Autora: Claudia Alexandre
Páginas: 208
Edição: 1ª (2021)
Dimensão: 22,8x15,6cm
Onde Comprar
E em outras livrarias.
Disponível em formato impresso e digital.
Sobre a Autora
Claudia Alexandre, jornalista e apresentadora de Rádio e tv, é especialista, mestre e doutoranda em Ciência das Religiões pela PUC-SP. Foi assessora especial da Fundação Cultural Palmares (MinC) e assessora de comunicação do Museu Afro-Brasil e da União das Escolas de Samba Paulistanas (uesp). Como locutora da Transcontinental fm, despontou como a principal voz feminina negra das rádios paulistanas. Em 2018, criou a plataforma digital br Brazil Show (@brbrazilshow), onde produz conteúdo e apresenta o programa “Papo de Bamba”. É colunista do programa “O Samba Pede Passagem” (USP FM) e foi comentarista de Carnaval da Globonews SP (2019–2020). Afroempreendedora, dirige a agência Central de Comunicação. Integra a Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial SP (Cojira) e os coletivos “Acadêmicas do Samba” e “Mulheres do Axé do Brasil”. É autora dos livros “Na fé de Vivaldo de Logunedé: um pouco do Candomblé na Baixada Santista (Secult Santos) ” e “Vai-Vai: orgulho da Saracura (AB Editora) ”. Também pesquisa a vida de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata. Conheça mais sobre a autora em @claualex16.
* Livro recebido da @sicomunicacao
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