Uma Casa no Mundo, de Daniela Chindler e Juliana Portenoy, conta com as belíssimas ilustrações de Lula Palomanes, e foi publicado pela Sapoti Projetos Culturais em 2020. Diante de uma terrível perseguição, alguns imigrantes judeus cruzaram continentes e oceanos, enfrentando perigos e muitas dificuldades, em busca de um lugar onde pudessem recomeçar. É exatamente sobre isso que fala esse livro: de recomeços.
Diversos livros e filmes já retrataram ficções e realidades sobre os horrores das perseguições aos judeus. A crueldade dos campos de concentração e os terríveis desfechos de cada história mostraram vidas sendo destruídas e famílias inteiras dilaceradas pelos nazistas. Alguns, por sorte, por influência, ou por ter alguma moeda de troca, conseguiram escapar e recomeçaram a vida em outros países ou continentes.
Essa obra infantojuvenil reúne 14 histórias de pessoas que saíram de seu país de origem e enfrentaram uma árdua e perigosa viagem rumo ao Brasil, mais precisamente ao Rio de Janeiro, onde sonhavam encontrar um lugar seguro para reconstruir suas vidas. Muitas vezes só lhe restavam a saudade e as lembranças das pessoas queridas que ficaram para trás e das quais nunca mais tiveram notícias.
Todos os pequenos contos são reais e foram baseados nos depoimentos de filhos, netos ou pessoas com alguma descendência ligada diretamente às personagens principais. O livro traz uma pequena biografia de cada um desses entrevistados, sem contar que reproduz algumas fotos que, diante de pequenas pistas, se relacionam com cada uma das histórias.
Esse recomeço era uma tarefa árdua, se agravando com a dificuldade de estar em meio a uma cultura diferente e tendo que lidar com uma língua desconhecida. A bagagem, na maioria das vezes, se resumia a uma mala de mão e pouquíssimos pertences. Com muito pouco dinheiro, os imigrantes acabavam vendendo algum objeto de apego pessoal, mas muitas vezes essa era a única forma de começar um pequeno negócio ou se sustentarem durante um tempo.
O mais legal da leitura é que vamos nos deparando com histórias de sucesso, marcas conhecidas, ou nomes de destaque na sociedade brasileira. Pessoas que passaram por inúmeras dificuldades e que venceram, construído para seus filhos, netos e bisnetos um futuro antes não imaginado diante da perseguição que sofreram.
Você vai conhecer, por exemplo, a história da DeMillus, famosa marca de lingerie do Brasil; vai saber como foi criada a primeira escola judaica carioca; vai descobrir como surgiram os primeiros biquínis de lacinho; vai acompanhar a organização da Primeira Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa na orla de Copacabana; vai se orgulhar de Nora que aos noventa anos, em 2014, ganhou sete medalhas de ouro em um campeonato mundial de natação; e vai se emocionar com muitas outras histórias.
Com 76 páginas, Uma Casa no Mundo, é uma obra que contou merecidamente com diversos patrocinadores. A edição está linda, bem organizada, com inúmeras ilustrações de muitíssimo bom gosto que enriquecem ainda mais o trabalho. O livro contém um mapa-múndi com o percurso de cada imigrante, a fonte é confortável, o papel com qualidade fotográfica, e ainda encontramos explicações de palavras, cultura, ou costumes citados em cada texto. Os contos são curtos, mas conseguem transmitir a atmosfera de seu tempo, além de destacar as particularidades de cada personagem e sua história, mostrando o desfecho dos imigrantes judeus em terras brasileiras. Os autores Daniela Chindler e Juliana Portenoy, e também o ilustrador Lula Palomanes, merecem todo o reconhecimento pela beleza do livro. Com certeza ganhará um lugar de destaque em minha estante. Boa leitura!
Autoras : Daniela Chindler / Juliana Portenoy
Sapoti Projetos Culturais
Edição : 1ª (2020)
Páginas : 76
ISBN : 978-65-991686-0-4
Dimensões : 22,7x20,8x0,6
Sobre os Autores
Daniela Chindler é carioca da gema, nasceu no Rio de Janeiro, mas seus antepassados viajaram um bocado até chegarem ao Brasil. Tem um avô que veio da Romênia (terra do Drácula) e uma avó que veio de Jerusalém. Essa avó se chamava Iona, que significa "pomba" em hebraico, porque seu pai tinha um pombal. Do outro lado da família, tem bisavós de origem russa, e a história deles está contada em "Uma sala com um piano". Daniela trabalha com projetos educativos no Centro Cultural Banco do Brasil, Museu Judaico de São Paulo, entre outros museus. Ela escreve roteiros para o teatro e livros infantis. Sua obra "Bibliotecas do Mundo" ganhou o prêmio de "Melhor Livro Informativo do Ano para Crianças e Jovens", da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 2012. É autora de diversos projetos de incentivo à leitura e foi curadora da programação infantojuvenil da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, da Bienal do Livro do Amazonas e da Bienal do Livro da Bahia.
Juliana Portenoy Schlesinger nasceu em Aão Paulo. Seus avós vieram da Europa Oriental, tomavam sopa de beterraba e falavam o idiche. Juliana herdou deles o gosto pelos estudos. Aos 18 anos, escolheu cursar duas carreiras na universidade - Ciências Sociais e Jornalismo. Aos 22 anos, mudou-se para Jerusalém, onde viveu por quatro anos e fez seu mestrado em Antropologia na Universidade Hebraica de Jerusalém. Os antropólogos estudam as diferentes maneiras de ser e de estar no mundo, bem como de compreendê-lo. De volta ao Brasil, fez seu doutorado e o pós-doutorado na USP, em Literatura Hebraica. Juliana é também professora, dá aulas para alunos do Ensino Médio há mais de dez anos. Mãe de duas meninas e casada com um rabino, vê na diversidade a maior beleza do ser humano.
Lula Palomanes é filho de seu Avelino, português vindo da cidade de Braga, no Norte de Portugal e de dona Joaquina, uma espanhola nascida na província de Galícia. O casal chegou ao Brasil na década de 1950. Lula nasceu em Andaraí, passou a infância na Penha e em Campo Grande e, ainda hoje, mora no subúrbio carioca, numa casa com quintal. O menino, desde cedo, mostrou que tinha talento para o desenho. O ilustrador visitava o Museu de Belas Artes, levado por eu Avelino, que o incentivava, e comprava, para ele, livros de arte de presente. Lula sempre trabalhou na imprensa, O Pasquim, Jornal do Brasil, O Globo, Folha de S. Paulo e, agora, no jornal Valor Econômico. Ilustrou capas de livros para as editoras Record, Zahar e Rocco. Para crianças, fez desenhos para a Revista Ciência Hoje e para os livros "Um Dia Desses", de Ana Maria Machado e "O Homem que botou um ovo, de Daniela Chindler".
* Livro gentilmente recebido do Projeto Sapoti Cultural, através de Dani Fernandes.
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