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Resenha: As amarras - Jorge Sá Earp (7Letras)

em sábado, 5 de setembro de 2020


As Amarras
, do autor Jorge Sá Earp, foi publicado em 2020 pela Editora 7Letras.  Até que ponto somos livres para fazermos nossas próprias escolhas?  Seria mesmo possível anular os desejos para se enquadrar em um padrão social?


Depois de muitas aventuras homossexuais, mesmo sem estar apaixonado, Eusébio acabou casando-se com Aglaia, uma amiga de infância.  Talvez tenha sido esse o ápice da submissão do personagem para encaixar-se em um modelo aceito e respeitado pela sociedade.   Ele sempre permitiu que a intenção dos outros se sobressaísse  sobre sua própria vontade.

Ele era arquiteto, profissão praticamente escolhida pelo pai, diante de suas aptidões para o desenho mostradas ainda criança.  Logo de início, o casamento se tornou um tormento para Eusébio.  Infeliz ao lado da esposa e entediado com o novo emprego no escritório do sogro, não havia outra saída além de tentar romper as amarras que tornavam sua vida enclausurada.   Ele era um prisioneiro  de si mesmo.

 

Verdade seja dita.   Ele até podia se sentir assim, mas nunca realmente conseguiu reprimir seus desejos, afinal desejo é desejo e ponto.  Eusébio sempre viveu muitas aventuras em sua juventude ao lado de Ismael e Josué, os grandes amigos que lhe acompanharam por toda a vida.  Digamos que Aglaia, a esposa, tenha sido a verdadeira vítima, afinal o casamento poderia ser considerado uma grande farsa, que obviamente teve suas consequências.   


Quando percebeu que estava no meio de uma grande cilada, que era seu casamento, e sentia-se totalmente infeliz com a profissão, Eusébio se enveredou pelo mundo do teatro a convite de um amigo.  Tentou isso e aquilo no tal universo mágico, mas acabou se descobrindo realizado na cenografia, que trouxe um novo frescor em sua vidinha sem sabor.  

Todo esse lado dramático se torna leve e ganha ares de comédia com as situações vividas pelo personagem.  Suas dúvidas, aventuras e neuroses dão ritmo à trama e torna a leitura muito divertida.  Aos poucos, muitas figuras vão ganhando destaque na trama como o garçom Inair que cruza seu caminho na festa de casamento, ou Fabiano, um jovem ator de teatro por quem ele se apaixona.   Tem ainda a amiga Bel e os amigos Ismael e Josué que servem de apoio para seus dilemas.  Além dos pais, que sempre interferem em sua vida, conhecemos também o tio Zacharias, uma figura pra lá de excêntrica.


É muito difícil exercitar a empatia com o personagem principal.  Por uma abordagem mais profunda poderíamos supor que ele foi vítima da sociedade, e que o casamento foi uma tentativa de formar uma família convencional.  Por outro lado, verdade seja dita,  ele nunca se privou de seus desejos, e viveu ao extremo suas fantasias.  Eusébio nunca se entregou ao sofrimento, ou se tornou amargurado. Traiu e ignorou por completo o casamento e a família construída.  Foi um mau-caráter.   

O enredo contém muitos elementos que podem contribuir para que cada leitor tire suas próprias conclusões.   A verdade é que a trama explora um tema bastante recorrente na sociedade moderna. Mesmo que muitas amarras tenham sido desfeitas nos últimos anos, ainda há muita hipocrisia que acaba desencadeando grandes mazelas aos indivíduos e fazendo novas vítimas todos os dias. 

 

Com 176 páginas, 19 capítulos, folhas amareladas, fonte e espaçamento confortáveis, As amarras traz um texto moderno e divertido, tendo entre outros cenários a cidade do Rio de Janeiro como destaque.  Mesmo lidando com uma questão delicada, o autor consegue inserir leveza nos diálogos e situações que escorregam sempre para o lado cômico.  Para quem curte leituras fluídas e ligeiras é uma ótima dica de leitura.

Boa leitura!




Autor:  Jorge Sá Earp
128 páginas
1ª Edição - 2018
Dimensão:  14x21cm
ISBN 978-85-421-0705-0



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Onde Comprar

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E em outras lojas.

Sobre o Autor 
 
https://www.facebook.com/jorge.saearp


Jorge Sá Earp nasceu no Rio de Janeiro, em 1955. Cursou Letras na PUC-Rio. Como diplomata serviu na Polônia, Holanda, Gabão, Bélgica, Romênia, Equador e atualmente vive na Costa Rica. Publicou, entre outros, Ponto de Fuga (romance, 1996), vencedor do prêmio Nestlé de Literatura; Areias Pretas (contos, 2004), O Novelo (romance, 2008), As marés de Tuala (romace, 2010), O Jogo dos Gatos Pardos (romance, 2011), Bandido e mocinho (contos, 2012), Quatro em Cartago (romance, 2016) e A praça do mercado (2018).





* Livro gentilmente cedido pela Oasys Cultural

Um comentário:

  1. Amigo logo nas primeiras linhas de sua resenha, senti interesse pela história,pois é um assunto atual que infelizmente acontece nas famílias.Conheço pessoas que tiveram suas escolhas sendo feitas por outros,e tiveram que viver vidas que não eram suas,então certamente é uma leitura que vai exigir uma mente aberta e muita reflexão.Obrigada pela sugestão.

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