Toda arte precisa dessa solidão.
A Bala Perdida, do autor e dramaturgo Guilherme Figueiredo, foi publicado em pela Topbooks em 1998. As memórias de um homem que viveu muitas histórias, fez amigos e inimigos, conquistou prêmios e honrarias no universo cultural. Lembranças que, com o tempo, tornaram-se sombras, mas alimentaram a saudade, imortalizada nas páginas desse livro.
Um livro de memórias é diferente de um livro autobiográfico. Enquanto o primeiro tem como base as lembranças e todas suas vertentes, o segundo explora diretamente a vida do autor. Em A bala perdida, Guilherme Figueiredo relembra acontecimentos que marcaram sua trajetória e sua carreira. Muitas histórias pessoais são exploradas, mas o autor também nos fala sobre outros assuntos, e sobre outras pessoas que, de alguma forma, cruzaram seu caminho.
Guilherme Figueiredo faleceu em maio de 1997 aos 82 anos. O escritor e teatrólogo, muitas vezes premiado, ficou internacionalmente conhecido, principalmente por ter uma de suas peças, A raposa e as uvas, encenada em dezenas de países. Todo esse sucesso lhe rendeu inúmeras viagens pelo mundo, usufruindo dos direitos autorais, que se não o deixaram rico, pelo menos lhe proporcionaram ótimas viagens e valiosos amigos.
Ninguém espere que os personagens destas Memórias estejam passados a limpo. Quando se trata de ficção, são possíveis esses retoques. Quando se trata de verdade, a verdade não se passa a limpo.
Outro fator de destaque em sua biografia é o irmão João Figueiredo, ex-presidente da República. Mesmo sem explorar diretamente esse eixo, percebemos o quanto isso acabou influenciando alguns fatores em sua vida. O casamento com Alba Lobo de Figueiredo, única esposa, lhe deu dois filhos. Pena que poucos momentos da vida do casal estejam nas páginas dessas memórias.
O livro explora acontecimentos importantes e históricos nos últimos 60 anos, tanto no campo político como no cultural. Alguns nomes lembrados pelo autor são Tonia Carrero e Paulo Autran, que deram vida à personagens de uma de suas peças. Outros nomes também se destacam, como Pedro Bloch, Villa-Lobos, Mario de Andrade, Gilberto Freyre, Assis Chateaubriand, Bidu Sayão, Procópio Ferreira, Bibi Ferreira e até Santos Dumont, entre muitos outros. Muitas vezes fui até o Google para pesquisar detalhes sobre acontecimentos ou alguns desses nomes que me despertaram a atenção.
Não há governante sem culpa...
Sentimos em muitos relatos a tristeza das lembranças pelos grandes amigos que se foram ou trilharam outros caminhos. Nos emocionamos em outros momentos, como a despedida de tia Candê. Através das memórias de Guilherme Figueiredo, conhecemos personagens fascinantes. Ao longo da carreira, embora tenha conquistado muitos amigos, também fez inimizades. Foram alegrias e decepções.
Em 1932, Guilherme Figueiredo participou com o pai do movimento constitucionalista de São Paulo. Formou-se em Direito, mas não se dedicou à profissão. Foi adido cultural junto à embaixada brasileira na França. Foi professor de História do Teatro. Foi cronista, colunista de vários jornais, trabalhou na extinta TV Tupi. Seus livros tiveram boas críticas, e as peças representadas em diversos países. Sempre foi bem recebido em rodas literárias.
Só há uma coisa melhor do que ganhar um bom amigo: é perder um mau amigo.
O autor faleceu sem fazer a revisão final de seu livro. A editora decidiu manter os escritos originais, mesmo contendo muitas repetições que seriam suprimidas e organizadas diante de uma avaliação. A verdade é que a exclusão de alguma parte, que não fosse feita pelo próprio autor, poderia tirar a essência da obra. Mesmo que essas repetições cansem e atrasem um pouco a leitura, achei a decisão acertada, pois sempre tem um detalhe a mais a acrescentar na história.
Com 604 páginas, folhas amareladas, A Bala Perdida reúne 81 fotografias do arquivo pessoal do autor. Um homem que precisou escolher entre as glórias do sucesso e o aconchego da família. O livro é um relato histórico de uma época, retratando episódios e bastidores envolvendo personagens da cultura e da política que fizeram parte da vida do autor. É uma ótima sugestão de leitura para os apreciadores do gênero.
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