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Resenha: Tempo dos Mortos - José Alcides Pinto (Topbooks)

em domingo, 26 de julho de 2020

A vida é um instante...


Tempo dos Mortos, de José Alcides Pinto, foi publicado pela Topbooks em 2007.   A sutil linha que separa a vida da morte é explorada pelo autor ao retratar o dia a dia dentro de um grande hospital sob diversos pontos de vista. 

O livro reúne três obras do autor cearense que nasceu em Santana de Acaraú em 1923 e faleceu em 02 de Junho de 2008 em Fortaleza.  Essa premiada trilogia apresenta:   Estação da morte (1968), O enigma (1974) e O sonho (1974).

O cenário é sempre o mesmo, um grande hospital considerado o melhor da América Latina, projetado pelo Dr. Braz, um exímio engenheiro.  Embora cada história explore um tema diferente, alguns personagens são recorrentes, como o Padre Hugo, o Engenheiro Braz e o Despenseiro.  As tramas acontecem durante a ditadura, embora as histórias não tenham foco direto nisso.

Estava em cada um saber vencer a solidão.


Através de personagens bem construídos, que diante de uma aparente sutileza, se tornam complexos ao levantar inúmeras reflexões, o autor percorre com maestria a linha tênue entre a vida e a morte. Se por um lado explora os temores do fim diante do destino fatal, inevitável para todos nós;  por outro indica a continuidade de nossa existência que permanecerá na memória daqueles que ficam.

Estação da Morte

Dividida em duas partes, com 16 capítulos cada, mostra a rotina do hospital sob o olhar de um dos pacientes que aguardava uma cirurgia para fechamento de diagnóstico.  A relação com a esposa Alda e o repentino encantamento pela enfermeira Iolanda, se misturavam à nova rotina cercada dos recentes amigos que já se pareciam com velhos conhecidos da infância.

A morte é isto:  estar só no mundo e cercado de todos.


Uma realidade que parecia alheia ao mundo antes conhecido.  Cada um precisava afastar o medo da morte ou o tédio que se instalava depois de uns dias internado.  Era isso que os faziam tão próximos e tão cúmplices. Um novo cenário, novas pessoas e um futuro incerto.   Aos poucos a atmosfera do lugar se entranhava em suas próprias vidas.

Cada capítulo explora uma peça desse jogo.  Os dados já haviam sido jogados, e o resultado era incerto.  A vida e a morte pareciam tão próximas e tão possíveis. 


O enigma

Narrado em 3ª pessoa acompanhamos a rotina de funcionários e pacientes pelos olhos de um homem que dedicou a vida a cuidar da despensa do hospital.  Como imaginar a própria vida longe daquele lugar que parecia ter se integrado a sua essência.  Uma possível vida feliz ao lado de Joana, filha da lavadeira, parecia uma utopia.

A morte e o tempo são os melhores conselheiros, e é preciso tirar partido dessa lição.


Era constante o contato diário com a morte, sentado em sua poltrona no final do corredor, logo na saída do grande elevador onde os mortos eram levados pela última vez enrolados em seus lençóis alvíssimos.  Depois disso, cada história só permaneceria nas lembranças dos amigos e familiares.

Em um dos quartos, o Dr. Braz, o Engenheiro, ensaiava depois de 8 anos de enfermidade, seu derradeiro desfecho.  Após  rabiscar vários projetos e calcular minuciosamente tal embate, esperava ter encontrado uma forma capaz de enganar a própria morte.


O sonho

Também divido em 3 partes.  Um rapaz que esperava por uma delicada cirurgia, acompanhava com curiosidade as aves agourentas vistas pela janela do hospital e que circulavam a torre do relógio.  A intensa relação que surge entre ele e Débora, a enfermeira, poderia ser sinal de que seus dias realmente estivessem chegando ao fim, sem deixar testemunho daqueles momentos tão intensos. 

Mais uma vez, o autor consegue explorar com intensidade a vida que pulsa, se confrontando com a possibilidade da morte.  É nos detalhes e nas entrelinhas que o leitor percebe a grandiosidade do texto de José Alcides Pinto, com total domínio das palavras e das ideias.

Da janela posso ver um pedaço do mundo.
 
Com 212 páginas, folhas amareladas e letras confortáveis, Tempo dos Mortos explora com profundidade a existência humana diante da morte.  Qual o sentindo da vida diante de sua fatalidade?  Com total domínio da escrita, o autor constrói uma narrativa ágil e inteligente.   A solidão dos hospitais pode esconder muitas histórias, e a morte pode tornar-se apenas parte delas.

Boa leitura!


Autor:  José Alcides Pinto
Editora:  Topbooks
Páginas:  2012
Edição: 1ª (2007)
Dimensão: 21x14cm
ISBN 978-85-7475-133-7




Onde Comprar

http://www.topbooks.com.br/sinopses1.asp?chave=405&topico=O+outro+lado+da+lua

E também em outras livrarias online.

Sobre o Autor

José Alcides Pinto, que despontou nos anos 60 e 70, tinha dois livros recentes lançados pela Topbooks: "Tempos dos mortos" e "Trilogia da maldição", com personagens loucos, palhaços e pervertidos, que vivem situações-limite de mistério e horror. O escritor nasceu em 1923, na cidade de Santana de Acaraú (CE), e morreu atropelado por uma motocicleta. Na sua obra, destaca-se a narrativa fantástica, mas ele experimentou diferentes gêneros, como romance, novela, conto, ensaio, poesia. Também foi crítico e professor. Costuma ser considerado um autor maldito pelos críticos, sem ter se filiado a nenhuma geração. (Fonte:  Skoob).

* O livro foi um presente da Editora TopBooks.

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