Meus olhos estão vazios?
Babel é o primeiro romance escrito pelo autor Frederico Monteiro. O livro foi publicado pela Editora Autografia em 2019. O enredo explora com intimismo as relações humanas, mostrando como os sentimentos se afloram diante da fragilidade das situações.
Francisco é um advogado de meia-idade que faz da própria rotina um lugar cômodo para se viver. A caminhada que faz do pequeno apartamento onde mora, atravessando a praça central, até seu escritório no centro de Babel, lhe apresenta um universo que, forçosamente, acontece em paralelo ao seu próprio mundo. As relações humanas, e todas suas nuances, é o ponto chave do enredo, que explora a forma como pequenas ações acabam por influenciar uma cadeia de fatores que afetam tudo ao seu redor.
Vários acontecimentos tiram Francisco de seu comodismo quase natural. Seu escritório de advocacia enfrenta uma crise sem precedentes, a ponto de faltar dinheiro para suas despesas básicas. Um grande caos está prestes a consumi-lo, mas é a notícia de que sua secretária arranjou um namorado virtual que realmente consegue tirá-lo do eixo.
Quem vê no olho também vê na alma.
A secretária Marta sempre foi muito dedicada e fiel. Se agarra na expectativa dos honorários do único caso que o escritório está prestes a concluir, mas que se arrasta devido à letargia de Francisco. Marta é incansável em cobrar-lhe ações no processo de divórcio de uma cliente, cujo resultado positivo seria a salvação dos negócios.
A verdade há sempre de doer menos que a desesperança.
Fora isso, a relação com o pai, sempre acompanhado de um bom vinho, mantém Francisco ligado à essência familiar. É com ele que o modesto advogado ainda consegue tirar a máscara e mostrar um pouco do que realmente sente. Nos pequenos detalhes, conhecemos sua verdadeira essência e conseguimos entender um pouco o homem que se tornou. Outros personagens importantes se destacam em Babel, como a diarista Neida, o dono da padaria Quincas, e o proprietário do prédio onde mora o advogado.
Falhas e virtudes se anulam no mundo dos homens (...)
A relação com o velho carro é outro fator importante para conhecer melhor Francisco. A máquina parece entender seus desejos e necessidades, se apresentando como um companheiro fiel. É como se tivesse vida própria, lidando com seus sentimentos, expectativas e frustrações. Outra face de Francisco deixa o leitor apreensivo. A obsessão pela vizinha adolescente é bem assustadora e, com o desenrolar da narrativa, o leitor vai acompanhando a tênue linha que o atrai para o apartamento do lado.
Estas memórias foram guardadas feito fotografias
amareladas num baú antigo, que foi enterrado num bosque distante, tão ao
sabor dos mistérios.
Outro destaque do enredo é o cenário político que, diante de uma eleição, se incendeia com extremismos. O autor foi muito feliz em sua colocação, gerando debates, mas sem tornar enfadonho ou grotesco; erro comumente cometido quando feito de forma desordenada sem amadurecimento das ideias. Não há imposição de ideologias. Babel se apresenta como um lugar muito próximo do que vemos hoje na sociedade. Política, violência, relacionamentos, etc.
Os duelos de amor não deveriam ser punidos.
Frederico Monteiro insere no enredo uma história do passado que vai se desvendando aos poucos diante de Francisco (e do leitor). Um processo criminal chega às mãos do advogado através de um misterioso e humilde cliente chamado Salustiano. Um assalto, uma vingança, um assassinato e um veredito. O autor soube mesclar bem as duas situações, nos deixando curiosos pelo desfecho. Nessa trama, percebemos o quanto o ser humano é guiado pela sua fragilidade, despertando amores, ódio, vingança e uma infinidade de sentimentos.
Narrado em 3ª pessoa, com 296 páginas amareladas, 23 capítulos e letras confortáveis, Babel retrata com perfeição a existência humana e o mundo individual criado por cada um. É um livro para ser saboreado nos detalhes, mas sem expectativa por respostas ou final completamente amarrado, afinal a vida está em constante movimento. Tenha uma ótima leitura!
Babel
Autor: Frederico Monteiro
Editora Autografia
ISBN: 978-85-518-2038-4
Páginas: 296
Ano de publicação: 2019
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Evandro, você fez uma leitura bem fiel e sensível. Se eu não houvesse lido o romance, o leria agora. Este é multilinear e cada linha narrativa tem o seu próprio sabor, indo do suspense ao romântico, do contemporâneo ao atemporal. Parabéns pela inclusão. Que bons leitores possam manter vivo o estímulo a novos escritores!
ResponderExcluirRafael Monteiro, pai do autor.
Que honra ter o pai do autor por aqui. Agradeço muito o comentário e fico muito feliz que tenha gostado da resenha. Nossos autores merecem todo o reconhecimento, pois sabemos que não é fácil, nem barato, fazer com que uma ideia e inspiração se transforme em um livro para chegar às mãos dos leitores.
ExcluirMeu querido amigo, sabe eu amo suas resenha, me deixa com vontade de ler! e está não foi diferente! parabéns para o autor e para você que faz resenha ótima, beijinhossssss
ResponderExcluirOla tudo bem..
ResponderExcluirEu nao conhecia nem a obra e nem o autor mas pela forma que voce escreveu a resenha nos da a vontade de ler ..
Ainda não conhecia o autor , Babel é um romance com cenário político muito próximo a nossa atual realidade, por isso resolvi a ler .
ResponderExcluirNão conhecia o autor também,mais adorei a resenha,vou colocar na minha lista de leitura
ResponderExcluirSempre curto ler suas resenhas. Esse livro parece ser bem interessante, mesmo não sendo o estilo de leitura que estou acostumada, porém acho super válido a leitura.
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirAinda não conhecia a obra, mas depois do seu post, fica quase impossível não querer iniciar essa leitura agora mesmo. Gostei do fato do autor abordar questões políticas, além dessa fragilidade do ser humano em relação aos seus sentimentos. O fato dele conseguir nos prender para o desfecho da história também é bem positivo. Sua resenha está simplesmente sensacional, arrasou!
Beijos!
Ola! Leandro ...Bem bacana e a resenha, bem feita.Obrigado.
ResponderExcluirConforme lia a sua resenha mais curiosa ia ficando. Os temas da nossa realidade inseridos na leitura farão o leitor se prender ao enredo. Anotada a indicação, Evandro, obrigada!
ResponderExcluirEu ainda não tinha visto esse livro, porem adorei a sua resenha
ResponderExcluirObrigado por mais uma indicação! Gosto de dizer o quanto é importante valorizar a literatura nacional. Mesmo porque é mais fácil de contextualizar na nossa realidade. A história de Francisco, pela sua resenha me parece um tanto real e paupavel. É com certeza um livro que vai entrar na minha lista de leituras obrigatórias.
ResponderExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirAdorei a sua resenha e achei muito bem escrita fiquei com aguá na boca de ler esse livro.
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