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Resenha: Chiclete - Kim Ki-taek (7 Letras)

em domingo, 17 de novembro de 2019


Chiclete, do autor Kim Ki-taek, é o segundo livro de poesia coreana publicado pela Editora 7 Letras.  O livro foi traduzido diretamente do idioma original por Yun Jung Im, o que nos garante uma proximidade maior com a essência da escrita do autor.

A poesia é universal, e essa magia nos permite uma aproximação com uma cultura distinta e, ao mesmo tempo, curiosa. As semelhanças e as diferenças acabam se sobressaindo diante dos pensamentos, das combinações das palavras e dos sons que surgem na poesia de Kim Ki-taek.   O leitor, muito além de se confrontar com costumes diferentes, é surpreendido pela abordagem do autor diante de diversas situações.

Me vesti e saí
Mas quando quis escrever algo, vi que não tinha caneta no bolso.
Pensamentos não passados para o papel se afligem.
Atabalhoam-se sem poder se aderir de pronto à folha de papel.
Sem saber o que fazer, dedos viciados em escrever
Zanzam em vão dentro do bolso entre o celular e a agendinha.
(...)

(Trecho de Dedos - p.69)


O que difere o olhar do autor é a perspectiva que impõe sobre objetos, pessoas, acontecimentos e coisas.  Se por um lado transmite uma emoção, por outras repassa a frieza e distanciamento dos fatos.  Ele explora diversos ângulos de visão, e faz do seu posicionamento diante das situações, o grande diferencial de sua poesia.

Yun Jung Im se dedica há muitos anos à tradução de autores de sua terra natal.  Essa vasta experiência faz com que a atmosfera criada pelo autor não se perca nesse processo de tradução, que muitas vezes se esbarra com expressões ou palavras que não se encontram equivalente em outras línguas.   O dedicado trabalho da tradutora buscou transpor a alma de Kim Ki-taek com suas ideias originais para o nosso idioma.  Em casos necessários, onde não havia uma palavra que pudesse nos dar a ideia correta sobre algum verso, ela inseriu pequenas notas sobre a tradução.

(...)
Enquanto dormia na noite passada
Os olhos ficavam vendo os sonhos sem parar
E a cabeça pesava mesmo depois de ter levantado.

Os olhos
Continuam abertos dentro das pálpebras fechadas."

(Trecho de Olhos - p. 42)

 O autor nos apresenta fatos urbanos em suas poesias.  Seu olhar percorre acontecimentos comuns, como um gato revirando um saco de lixo ou mesmo um cochilo durante a leitura.  A morte também é um tema recorrente, e constrói uma atmosfera angustiante para o leitor, seja ao expor o cenário de um acidente, ou mostrar um inseto que se espatifa no vidro do carro, ou ainda quando a retrata em um prato de comida.

Durante a XIX Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro de 2019 tive o prazer de participar de um evento exclusivo organizado pela agência literária Oasys Cultural que reuniu três autores coreanos.  Um deles era Kim Ki-taek, que pode nos contar um pouco sobre sua experiência na literatura e também falar sobre o livro Chiclete.   Foi uma experiência enriquecedora.  Com certeza, quero conhecer outras obras de autores coreanos.

(...)
Facilitando o trabalho da escavadeira.
Se embolavam e se enrascavam por entre as massas de cimento
Ruelas por onde passavam a custo as carroças de carvão
Casas de tábua deixando vazar luz tênue pelas frestas
Portões enferrujados que a qualquer passo se punham a latir.
Se postam junto à montanha de casas
Outras ainda não abatidas, com portas ora pendentes ora caídas
E com todos os vidros quebrados
Como se estivessem tremendo já há muito.
Assim que saíram os últimos teimosos que ainda resistiam
Ostentando tábuas onde se lia "Gente morando"
As casas envelheceram de repente
E se seguravam ali a ponto de se ruírem de vez.
Quando se foram até os manifestantes
A exigirem "direito à moradia do inquilino"
Elas pareciam se aguentar quase que forçadas
Como que prontas para se tornarem lixo de pronto
E desabarem a um simples toque da escavadeira.
Casas são carregadas em caminhões basculantes
Misturadas às embalagens de lámen, latas, caixa de leite, absorventes.

(Trecho de Mia:  Zona de Revitalização - p 60)


Com 92 páginas e 55 poesias, o livro tem folhas amareladas, letras confortáveis e bom espaçamento nas entrelinhas.  Chiclete é  uma ótima oportunidade para quem gosta de poesias e quer experimentar as palavras sob um ângulo diferente e uma cultura distinta.   Boa leitura!


Chiclete
https://www.7letras.com.br/chiclete.htmlAutor :  Kim Ki-taek
Editora :  7 Letras
Páginas :  92
1ª Edição (2018)
Formato :  15,5x23 cm
ISBN :  978-85-421-0717-3




https://www.youtube.com/channel/UCBoEPNh2Q97kT2N0-SbvYkwhttps://www.instagram.com/oasyscultural/https://www.facebook.com/oasyscultural/

Onde Comprar


 https://www.7letras.com.br/chiclete.html

https://www.martinsfontespaulista.com.br/chiclete-594121.aspx/p


Sobre o Autor

Kim Ki-taek nasceu em 1957 na cidade de Anyang, arredores de Seul, e estreou como poeta em 1989. Publicou, além de Chiclete (2009), O sono do feto (1992), Tempestade no buraco da agulha (1994), O funcionário de colarinho branco (1999), O boi (2005) e De rachadura em rachadura (2012). Também traduziu várias obras infantis estrangeiras, entre eles, O flautista de Hamelin. O poeta vem recebendo destaque da crítica em virtude do seu universo poético singular, que, com uma retórica racionalizada e descrições áridas, desconstrói a paisagem e os fenômenos do nosso entorno urbano. É vencedor de diversos prêmios literários em seu país. 

*Livro recebido da Oasys Cultural

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