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Resenha: Águas que passam - Nilva Dematé Solandek (Autografia)

em terça-feira, 15 de outubro de 2019

 Quantas histórias inventei e quantas nunca escrevi. 


Águas que passam é o primeiro romance de Nilva Dematé Zolandek, publicado pela Editora Autografia em 2019.   A autora mergulhou em suas lembranças, onde as águas de um velho rio se misturam com sua própria infância.  Um lugar mágico onde as recordações se confundem com a imaginação, embalando os sonhos daquela menina.
(...) nós somos como os rios, vamos deixando pedaços nossos pelos caminhos (...)

Mesmo tendo vivido parte da infância em outros lugares, as memórias daquela época em que vivia perto do Rio do Meio, no Oeste Paranaense, jamais foram esquecidas.   Nilva tinha entre seus 10 e 13 anos e, na época, qualquer futuro que lhe passasse pela cabeça não faria sentido sem o seu rio, que se tornou o amigo e companheiro de tantas histórias.

Não sei.  Nunca saberemos quem seríamos se  não tivéssemos sido nós.

Hoje, as recordações vêm em turbilhão, assim como acontecia com a menina e os pensamentos que não paravam.  Foi lá que viveu e aprendeu tantas coisas. A casa, o quintal, os campos, os animais e o rio...  Cada instante do passado, ainda hoje, lhe acaricia em momentos repletos de lembranças.   A liberdade de correr livre pelo mato, nadar nos rios, distinguir os passarinhos pelo canto, viver cada instante intensamente, tudo isso, contribuiu para a mulher que se tornou.

Ali, em silêncio, entendi que pessoas ditas boas, podem também ser más.

A vida não era fácil.  O trabalho na lavoura e a lida com os animais exigiam de todos uma parcela de esforço.  O pai italiano, arrendatário de um pedaço de terra, não media esforços para melhorar a situação da família.   No livro, Nilva nos conta muitos acontecimentos, fala sobre o pai, a mãe e os irmãos.  Também nos encanta com muitas outras pessoas que de alguma forma passaram pela sua vida e deixaram saudades, como Zé Preto e o Baixinho Trovador.


Águas que passam é um livro lembranças felizes, mas também  revive memórias de perdas e partidas.  É impossível ler Nilva Dematé  e não se lembrar da própria infância.  Cada detalhe que vai compondo um pouco da pessoa  que nos tornamos depois de adultos.  As ausências reforçam a saudade de um tempo que inevitavelmente deixam marcas que carregamos ao longo da vida.

Lembro-me do moço arrumando a mala, tão quieto, chorava baixinho.

Percebemos o quanto mudamos ao longo do tempo, e, muitas vezes, ao lembrarmos da criança que fomos parece que falamos de outra pessoa.  Mas sempre fica a essência dos dias que vivemos.  Muitos momentos insistem em permanecer em nossas lembranças, mesmo que, às vezes , fiquem adormecidos.    Remexer nesse baú de emoções nos faz reviver o passado e resgatar sensações que há muito não sentíamos.

São tantos os mistérios que conheço hoje, que já não duvido de quase nada.

Muitos temas importantes são abordados durante a leitura, mas sempre pela ótica de uma criança e de seu entendimento sobre os acontecimentos.  Nilva nos fala sobre morte, preconceito, o papel da mulher na família, trabalho infantil e diferenças sociais, entre outros assuntos.

Guardei sempre comigo, não tanto quanto guardo o meu rio, mas guardei como um cartão-postal do qual se tirou uma foto e nunca se revelou.

O livro é bem pequeno, com apenas 88 páginas.  As folhas são amareladas e não há separação de capítulos, o que me assustou em um primeiro momento.  Contudo a leitura é muito fluída e o texto ágil, fazendo com que  essa falta de divisão não incomode nem um pouco.  A narrativa é feita em 1ª pessoa.  A autora escreve como fala, nos contando os acontecimentos com seus pensamentos acelerados, como ela mesma diz.  Sendo assim, uma história puxa a outra,  e o leitor é levado pela correnteza desse rio, que se confunde com a própria vida daquela pequena menina.

(...) essa menina de quem falo pode, de repente, não ter sido eu.

É um livro delicioso para ler.  E o leitor poderá se perguntar:  será que tudo o que Nilva nos conta são verdades?! Difícil responder.  Afinal o tempo já misturou os acontecimentos verídicos com a imaginação fértil daquela garotinha que não parava de pensar.  O enredo é um convite para que o próprio leitor vasculhe suas memórias e descubra sua própria essência.

Boa leitura!


Águas que passam
Autora:  Nilva Dematé Zolandek
Editora Autografia
Edição:  1ª (2019)
Páginas:  88
Dimensão:  14x21cm
ISBN 978-85-518-1987-6

Onde Comprar:

 https://www.autografia.com.br/produto/aguas-que-passam/

https://www.amazon.com.br/Aguas-Passam-Nilva-Demate-Zolandek/dp/8551819879/ref=sr_1_9?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&keywords=aguas+que+passam&qid=1571150215&sr=8-9


Sobre a Autora:

https://www.facebook.com/nilvaaparecida.dematezolandek

Nilva Aparecida Dematé Zolandek nasceu em 1965.  Formada em Letras, Literatura, pela Universidade do Centro Oeste do Paraná, UNICENTRO. Publicou seu primeiro livro de poesias pela Editora da Universidade, intitulado Condutoras de Emoção.    Pós graduada em Literatura Brasileira pelo Unicentro.  Cresceu no interior do Paraná e aprendeu a gostar de ouvir e inventar histórias por ouvir o pai, sob a luz de lamparina, ler, com sua voz macia e bem entonada. Professora há 24 anos na Escola Pública Paranaense, acredita que ensinar Português é encantar com palavras e brincar de pescar sonhos.  Águas que passam é seu primeiro romance.

* Livro recebido através da assessora de imprensa Andréa Drummond.

10 comentários:

  1. Parece ser um ótimo livro para uma leitura leve, tranquila e ao mesmo tempo que nos faça refletir.

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    1. Com certeza, o livro se encaixa perfeitamente nessa definição.

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  2. Parece ser sensacional! Adoro essa nostalgia de relembrar o passado, falar sobre coisas vividas..

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  3. Fiquei com vontade de ler esse livro, gosto desse tipo de leitura, leve.

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  4. olá!
    Muito boa a indicação de leitura,não conhecia o livro nem o autor, parece ser muito bom.
    Abraços

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