Asas de Pedra, de Dylan Ricardo, foi publicado em 2018 pela Editora Chiado. Talvez a imagem devastada estampada na capa do livro represente bem o caos de sentimentos que vai surgindo em cada uma de suas poesias. Nem sempre as rimas são feitas de sonhos e risos; a realidade pode tornar-se poesia com suas dores, medos e desesperanças.
Estar preso em si é ter a chave nas mãos, mas estar cativo a um quarto
tão escuro que a fechadura não pode ser encontrada, e nas infindas
tentativas de libertação, sempre enveredar pela porta errada.
Ler Dylan Ricardo é transitar por caminhos sombrios e tortuosos. Um labirinto que se estende ao longo da vida, guiando-o pela desesperança, a caminho de um fim inevitável e premeditado. O autor não se prende a utopias ou ilusões de pequenos momentos de felicidade, que sempre se mostram breves e passageiros. Na poesia de Dylan não há fantasia! É seu mundo real e obscuro que se apresenta a cada página.
Ah, minha memória!
Quando eu quero lembrar, ela me abandona.
Quando eu quero esquecer, ela me tortura.
Ela me mostra que o silêncio é uma fantasia.
(Trecho de Memória - p. 53)
Os sonhos parecem inalcançáveis e impossíveis, não há como fugir da realidade que se mostra fugaz e assustadora. É como ter pesadas Asas de Pedra, e saber que jamais o deixarão voar. As madrugadas frias e silenciosas são inspiradoras. A fumaça do cigarro e o copo de uísque, únicos companheiros da solidão que se torna confortável, já fazem parte de seu cenário.
Lágrimas são espelhos que escorrem.
(Trecho de Memória - p. 53)
Seu olhar sobre o mundo lhe cobra um alto preço pela vida. Ver a esperança se esvair como grãos de areia escorrendo pelos
dedos, faz de seu futuro algo tão incerto quanto seus próprios dias. A melancolia que se expõe em seus versos revela um pessimista que não pode ser contido. Cada palavra carrega o peso dos anos vividos e a frustração de apenas existir. A visão do mundo pelos olhos de Dylan Ricardo é como uma sentença: dura, cruel e inevitável!
(...) A vida é como uma frase que não chega ao final.
(...) Uma festa sem convidados em cada noite solitária.
Rosto após rosto, riso após riso, voz após voz.
Eu me lembro. Eu me lembro de cada um.
De cada frase. De cada momento com aqueles que resolveram se apagar.
(Trecho de Transitoriedade - p. 64)
Entre medos, culpas e desesperança, o autor expõe o que a maioria de nós procura esconder. Os temas são fortes, mas não devem ser ignorados. Dylan fala de traições, covardia, suicídio e depressão. A realidade se mistura aos pesadelos que se tornaram constantes. As recordações e despedidas deixaram suas marcas, e jamais irão desaparecer.
Recordar é uma música triste.
(Trecho de Transitoriedade - p. 64)
A sensação de não pertencer ao mundo que o rodeia, a certeza de ser um intruso e nunca ser desejado. Sua poesia é um desabafo, deixando sua existência marcada nos versos escritos com o próprio sangue derramado. O autor lapida cada poema com precisão, cada detalhe é minuciosamente harmônico à atmosfera de seu estilo.
Perco-me em mim quando meus olhos trapezistas
equilibram-se ébrios no trêmulo fio do horizonte.
E enquanto o luar pincela de leite minha íris esverdeada
suspiros murmuram lembranças que só o peito ouve.
(Trecho de Memória - p. 53)
Com 148 páginas e formato pequeno, Asas de Pedra é ideal para carregar e ler onde quiser. As folhas são amareladas e as letras confortáveis. Em suas páginas estampam 100 poesias, que carregam forte influencia gótica e ultrarromântica. Dylan Ricardo nos convida a conhecer a intimidade de sua alma, sem máscaras e sem enfeites. Talvez, assim, o leitor possa desvendar o homem por trás de tantas dores e desassossego.
Boa leitura!
148 páginas
Dimensão: 11x19cm
1ª Edição (2019)
ISBN: 978-989-52-2192-9
Confira outras resenhas do autor:
Dylan Ricardo - Escritor e poeta, é autor das obras Mil Poemas e um Suicídio (este com cem sonetos e um conto), Contos noturnos (com dez contos de horror) , Nas Brumas do Desalento, No Zênite da Insanidade, Asas de Pedra, Do Inferno e Estado Terminal (já lançados) todos com poemas de inspiração gótica e ultrarromântica nos quais descreve liricamente trajetórias existenciais abarrotadas de desânimo, decepções e sonhos destruídos. Trazendo reflexões ao leitor sobre a sua própria existência, seus desejos e atos praticados. Muitos desses poemas tornaram-se crônicas do cotidiano de uma personalidade insatisfeita, realista e questionadora, por se referirem a assuntos voltados ao relacionamento humano, às lembranças e à efemeridade da vida. No Porão da Decadência, seu novo livro com poemas, ainda nas mãos da editora.
Contatos do Autor
* O livro foi um presente do autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela visita. Deixe sua mensagem, é muito bom saber sua opinião.