Resenha: Sonho do Dragão - Elio Russo (Kiron)

Se há busca, é provável que haja encontro.

Sonho de Dragão, do autor Elio Russo, é mais um lançamento da Editora Kiron.  O enredo acompanha a trajetória de um homem considerado por muitos um Redentor.   Mas quais seriam os mistérios escondidos nessa suposta santidade?  Enquanto alguns achavam que ele fosse um homem especial, outros acreditavam que ele apenas manipulava seus seguidores com segredos ocultos.  Será que seus objetivos realmente almejavam o bem da humanidade ou seria apenas um impostor?  Essas foram apenas algumas questões que surgiram ao acompanhar o enredo de Sonho de Dragão.

Ser transparentes nos deixa vulneráveis.

Logo no início conhecemos Janus, um homem idolatrado por uma multidão que enxergava nele um ser iluminado, um redentor.  Alguém que, aos olhos dos seguidores, tinha total conhecimento dos mistérios e segredos espirituais.   Ele representava o principal nome de uma instituição chamada Eterno Aprendiz que buscava formar um novo modelo social, focando na liberdade de pensamento e no compartilhamento de benfeitorias.  Uma organização aparentemente perfeita que visava o bem comum, através de uma sociedade auto sustentável, livre, igualitária e fraterna.  Elio Russo passa a alternar momentos do presente e passado, mostrando a construção desse ídolo.  Percorre o caminho feito pelo menino do interior até aquele momento, enquanto uma cética jornalista chamada Milena, inicia uma busca incessante para achar algum vestígio que possa desmascarar toda a organização.

Ser seguidor de alguém ou algo é desistir de si.

Janus, desde criança foi visto como alguém especial pelos avós e para Dantas, o livreiro da cidade.  Viam nele o protagonista de uma grande missão e tornaram-se referência e inspiração.  Ainda garoto, diante de questões que surgiam no vazio de sua existência, partiu em uma busca solitária por respostas que pudessem aquietar seu espírito e dar sentido para sua vida.  Aos poucos percebe que não era apenas um anseio por liberdade, e sim um duelo de forças que era arduamente travado em seu interior.  À medida que percorremos cada passo de sua trajetória vamos montando o quebra-cabeças que o tornou um líder carismático, inteligente e determinado.

O que julgamos de errado no outro é às vezes só o reflexo embaçado do que somos ou queremos ser.

Por outro lado, havia muitos que acreditavam que ele fosse apenas um oportunista com inúmeros seguidores fanáticos.  É assim que conhecemos a jornalista Milena, que mergulha profundamente no universo de Janus em busca de uma resposta definitiva.   Ao mesmo tempo em que se insere na instituição Eterno Aprendiz seguindo sua linha de investigação, Milena se esbarra com questões interiores que acabam despertando mudanças e reflexões, alterando o rumo de sua vida.  Mas será que ela estava somente descobrindo sua essência ou estava se envolvendo em uma teia de manipulação do Eterno Aprendiz?

A memória é um quadro de fatos desbotados.  

São as emoções que dão o colorido, atraente ou repulsivo.

Entre os assuntos abordados pelo autor estão o fanatismo, formas de organização social, família, liberdade, meditação, intuição, descobertas e investigação jornalística.  Além disso, Elio Russo faz uma belíssima declaração de amor à esposa Dinaura, logo nas primeiras páginas de Sonho do Dragão, fato que não pode ser ignorado. Foi uma belíssima homenagem.

Somos um pequeno traço num imenso quadro 

cuja autoria e perspectiva nos é difícil entender.

A capa do livro com um dragão devorando a própria cauda, formando o símbolo de infinito, a princípio me fez pensar que o enredo fosse de fantasia, mas não se enganem.  Tanto o símbolo como  as cores tem outro significado inserido e explicado dentro do contexto, contudo pode confundir quem escolhe o livro pela capa.  Foi assim que fiquei surpreso com a direção proposta pela trama logo nas primeiras linhas.

Tesouros íntimos não se mostram, enterram-se em ilhas inacessíveis.

O autor divide o enredo em quatro partes:  Início, meio, fim e reinício.  Os capítulos são curtos em sua maioria, com letras e espaçamento confortáveis.  A revisão foi bastante cuidadosa.  Cada capítulo recebe um título e as páginas são amareladas.  A narrativa tem um ritmo tranquilo focado nos detalhes.  Mesmo com as dúvidas em relação a Janus e ao Eterno Aprendiz, o autor optou por não criar uma atmosfera eletrizante, destacando a essência da trama e das personagens.  O autor conduz o enredo de forma bastante interessante, e o desfecho, embora bem elaborado ainda deixa no ar algumas questões que poderiam ser exploradas.  Quem sabe vem um próximo volume por aí.  Desejo a todos uma boa leitura!

Orientar para não se tornar dependente de orientação.  É bom ser guiado enquanto se está inseguro.  O ruim é se acostumar em ser conduzido e não perceber quando chega a hora de dispensar o guia.

 

Sonho do Dragão
Elio Russo
Editora Kiron
Páginas : 500
1ª Edição (02/2017)
Largura : 22,5x16cm
ISBN 978-85-8113-568-7

 

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