A Guerra de Lob, do autor Lobo Mata, publicado pela Chiado Editora, é o relato de um tempo de guerra pelos olhos de um homem. Muitas coisas foram tiradas das anotações feitas em seu
pequeno e inseparável caderno, mas também utiliza sua lembrança, por mais que tenha
jurado sepultar esses anos. São momentos em que
viveu e sobreviveu, seus pensamentos e sentimentos e, acima de tudo, uma
homenagem aos seus companheiros.
Era maio de 1968. Lob estava prestes a completar 20 anos e via a guerra colonial na África portuguesa, com início em Angola, interferir em seu destino. O conflito rapidamente havia se estendido por Moçambique e Guiné nos primeiros 6 anos. Os protestos pela paz e amor já ultrapassavam as fronteiras da Europa, mas as hostilidades contra o domínio português em terras africanas só aumentavam e a guerra parecia não ter fim
Era maio de 1968. Lob estava prestes a completar 20 anos e via a guerra colonial na África portuguesa, com início em Angola, interferir em seu destino. O conflito rapidamente havia se estendido por Moçambique e Guiné nos primeiros 6 anos. Os protestos pela paz e amor já ultrapassavam as fronteiras da Europa, mas as hostilidades contra o domínio português em terras africanas só aumentavam e a guerra parecia não ter fim
"Confesso-me enamorado, apaixonado por alguém que 'nunca vi' , 'nunca conheci', e provavelmente nunca conhecerei."
Lob nasceu em Serra das Estrelas, Sobral, uma
aldeia afastada em Corvilhã, Portugal. Agora, diante da aproximação da apresentação para o serviço militar, sentia-se dividido. Deveria fazer como muitos amigos, que fugiam pelas
fronteiras buscando a tão sonhada liberdade, refugiando-se principalmente na França, para tentar uma nova vida, ou alistar-se por ideais de justiça, lutar pela libertação dos povos
oprimidos, como outros faziam?
Lob era um jovem cheio de vida, brincalhão, alegre e cheio de disposição. E, de repente, a guerra parecia destruir seu presente, enterrando seu futuro diante de seus olhos.
"Era assim que a guerra de Lob se ia passando. A normalidade na anormalidade, que é pessoas prepararem outras para uma guerra a quem não perguntaram se a queriam fazer."
Desde a inspeção militar, passou por todos os treinamentos que o levaria a uma guerra, que pareceria ser mais dos outros que dele, pois considerava aquela batalha injusta e inútil. A triste realidade que o tornou apenas mais um número, o soldado 39, logo ele o mais antimilitar que existia. Agora era um guerreiro, combatente, um atirador de infantaria. Lob, passou a registrar em seu pequeno caderno as angustias, os medos e os momentos que viveria a partir daquele dia.
Lob foi mobilizado para a Companhia Independente de Intervenção, a CART 2763 com destino marcado para Moçambique, onde mais tarde assumiria o comando do grupo, do pelotão. O objetivo da CART era manter a segurança das máquinas e trabalhadores na pavimentação da estrada entre Macomia e Oasse. Logo se instalaram no Monte das Oliveiras.
"Chegou a vez de Lob ouvir na parada, pela primeira vez o seu nome, deixando de ser um número... e saber a especialidade atribuída... ATIRADOR DE ARTILHARIA, (esse mesmo) que Lob já sabia ser o mesmo que atirador de cavalaria ou infantaria... Era atirador e pronto!"
Lob foi mobilizado para a Companhia Independente de Intervenção, a CART 2763 com destino marcado para Moçambique, onde mais tarde assumiria o comando do grupo, do pelotão. O objetivo da CART era manter a segurança das máquinas e trabalhadores na pavimentação da estrada entre Macomia e Oasse. Logo se instalaram no Monte das Oliveiras.
Lob negou qualquer ligação com o mundo que deixava para trás, não deixou nenhuma namorada ou madrinha de guerra que lhe escrevesse cartas ou esperasse por ele, pois não queria ser motivo de sofrimento para alguém. Diante das lembranças e recordações dos amigos de infância e mesmo daqueles que conheceu no período da guerra, como Quelhas, com quem compartilhou o momento de ser definido apto pelo serviço militar, Lob se sentiu, muitas vezes, angustiado em deixar toda sua vida em função da guerra. Os momentos com Ana Paula no comboio, Celeste com quem passa uma noite, Joana, Karmem e Maria Luísa, de quem jamais se esqueceu.
"Agora tenho de lutar por mim e é por isso que sofro e deixo correr, não as lágrimas de feridas já curadas, mas o suor que o sol insensível e esquecido da guerra faz correr."
Todos os acontecimentos, as pequenas ou grandes conquistas, as derrotas que mesmo pequenas se faziam grandes e tristes, cheias de perdas. O medo das emboscadas a cada segundo. Como esquecer da noite em que dormiu ao lado dos corpos de soldados, esperando para serem embarcados para sua terra natal, apenas com uma placa que os identificava.
Ao fim de dois anos na guerra, depois de dedicar toda sua sorte ao bigode que cultivou, mesmo contra a pressão dos superiores, Lob havia mudado. Não podia mais ser o mesmo depois de tudo o que viveu.
"A África fazia parte dos seus três anos de vida que não vivera, três anos de vida que descontaria à idade que tinha, como tinha dito aos seus amigos, forçados a serem amigos, por causa da participação numa guerra que, desde o princípio, nunca considerou sua."
"A África fazia parte dos seus três anos de vida que não vivera, três anos de vida que descontaria à idade que tinha, como tinha dito aos seus amigos, forçados a serem amigos, por causa da participação numa guerra que, desde o princípio, nunca considerou sua."
A CART 2763, cumpriu dois anos na guerra, era o tempo estipulado de serviço. Talvez a única
certeza fosse de que a guerra havia passado, mas será que se esqueceriam da guerra?
Lobo Mata consegue nos guiar na estória através dos olhos de Lob, e dificilmente o leitor não vive intensamente cada segundo, cada despedida dessa guerra. O livro, além dos textos escritos por Lob em seu caderno, agrega falas da memória futura do autor, o que, em muitas situações, já nos dá uma visão do que o personagem ainda não sabe. Isso realmente dá uma tristeza, em saber que nem todos os seus sonhos e desejos se realizariam. Eu recomendo muitíssimo esse livro.
"Tão rapidamente como começara, tudo terminou."
Sobre o autor :
Lobo Mata (pseudônimo literário de Virgílio Marques)
O Autor, nasceu a 27 de maio de 1948 na aldeia do Sobral de São Miguel (Covilhã).
Mobilizado pelo RAP2-Gaia para servir em Moçambique, entre 19 de agosto 1970 e 17de novembro de 1972 cumpriu a sua comissão militar integrado na CArt2763, no Monte das Oliveiras (Cabo Delgado) e em Changara (Tete).
Visite o site dos veteranos AQUI
Parece intenso. Matéria de conteúdo forte. Vou atras desse.
ResponderExcluirHistórias de guerra sempre são intensas e fortes. O povo sofre, os soldados também...
ExcluirSó de ler sua resenha já fiquei fascinada pelo livro. Quero conhecer todos os detalhes dessa história.
ResponderExcluirAbraços,
http://contosdacabana.blogspot.com.br/
Saber que é uma história em sua maioria real, escrita por alguém que esteve na guerra faz toda a diferença. Eu adorei o livro.
ExcluirNossa, intenso e profundo uma história retirada de um fato verídico, simplesmente emocionante. Bjs
ResponderExcluirO livro é ótimo, Sandra. Toda guerra transforma tudo a sua volta
ExcluirSua resenha me deixou com vontade de ler mais sobre a história, vou procurar o livro aqui em minha cidade!
ResponderExcluirBeijos
Procure sim, tenho certeza que irá gosta muito. No fim tem o link da venda pela editora.
ExcluirParece um história envolvente.
ResponderExcluirConfesso que não curto livros sobre guerra, prefiro os de fantasia.
Beijinhos,
Aline Magalhães
Alineland
Eu também adoro os de fantasia, mas passeio tranquilamente por todos os gêneros.
ExcluirQue resenha maravilhosa, parecia já estar na história. Chato como a guerra acaba com muitos sonhos né.
ResponderExcluirBeijúh
comqb.blogspot.com.br
Verdade, imaginar todo o sofrimento de quem está dentro dela já é terrível. obrigado pela visita, Queli
ExcluirAdorei sua resenha, to doida pra ler o livro vou procurar pra comprar. Beijos
ResponderExcluirObrigado, Mandy. E esse casamento chegando heim! Seus vídeos são ótimos, eu adoro.
ExcluirNossa, adorei a sua resenha e fico feliz de ter me apresentado este livro. Eu adoro livro de relatos. E tendo em vista que este relato foi desenvolvido em uma situação tão deprimente, como uma guerra, me toca ainda mais. Um dos livros que mais adoro é O Diário de Anne Frank, que também é um relato e também feito em um momento delicado, no caso, dentro do contexto da Segunda Guerra e das atrocidades dos nazismo, que comandou um genocídio de todos que eram considerados não arianos.
ResponderExcluirCom certeza, vou ler este livro. As frases destacada na resenha, além de me chamar a atenção, enfatiza a qualidade que o livro teve ter.
Parabéns pela resenha.
meuniversolb.wix.com/meuniverso
Valeu, Leandro. Eu também gosto muito de livros assim. Nuss, o Diário de Anne Frank é mesmo muito bom, outro dia mesmo falei dele para um amigo.
ExcluirGostei muito da sua resenha e das suas marcações foi a que mais gostei "Confesso-me enamorado, apaixonado por alguém que 'nunca vi' , 'nunca conheci', e provavelmente nunca conhecerei." Bonita e melancólica. Parabéns Beijos
ResponderExcluirEu separei tantos trechos, por fim, tive que escolher, queria colocar todos. rsrs
ExcluirAdoro histórias de guerra! Vou procurar por esse livro!
ResponderExcluirEu também gosto bastante, Amanda. Sempre são histórias fortes e personagens inesquecíveis.
ExcluirMuito bom
ResponderExcluirQue bom que gostou, Francisco.
ExcluirNão sou muito fã de histórias de guerra, mas esse livro é bem interessante.
ResponderExcluirVocê sempre trazendo ótimas resenhas aqui.
Mas esse é o segredo, rsrs esse livro não é apenas sobre guerra, e sim sobre como a guerra afeta o personagem principal.
ExcluirÓtima dica de leitura. Sou fã de livros da Segunda Guerra Mundial, então devo gostar de livros de guerra na verdade, certamente entrará nas minhas opções de leitura. Bjoooo. Vivi
ResponderExcluirQue bom que gostou, Vivi. Leia sim, você vai gostar.
ExcluirValeu pela dica Evandro, sabe que gosto desses livros com tema de guerra, haha. Gostei bastante da resenha.
ResponderExcluirhttp://www.vestigiodelivros.com.br/