(Artigo de Eduardo Timbó)
Sempre escrevi versos. Desde a adolescência. Pois sempre tive a ingênua percepção de que o verso era mais “acessível” que a prosa.
De
fato, para um adolescente que vive o encanto da leitura, é formidável poder
saborear esse controle da palavra na folha em branco, a palavra soltinha no
papel. É um prazer quase totalitário, diria.
“A
palavra é minha e eu a organizo como bem entender”.
O
verso, muitas vezes, acaba sendo o instrumento primordial de acesso a esse
outro lado do processo que chamamos de literatura, que é quando assumimos
também o papel de produtores de uma escrita, de uma voz.
Sua
praticidade, assim como sua maleabilidade, nos causa essa impressão de que
somos donos do próprio nariz. Nada mais belo e ao mesmo tempo enganoso, pois um
verso que valha o sacrifício gasta muito tempo, muito capricho e relaxo, diria
Paulo Leminski.
Sei
que estou falando para um público que, em sua maioria, é de prosadores.
Produtores de uma escrita que passeia entre o romance de suspense, terror e o
de fundo romântico.
Sei
que também falo para muitos que produzem, alimentam, divulgam livros de novos
autores (feito eu) dos gêneros acima citados em blogs, sites e afins.
Se
falo de poesia, é porque foi através desse embate, escrever prosa x escrever
verso, que atinei para as particularidades de cada atividade; para aquilo que
diferencia um do outro. Pois entre ambos há mais diferenças do que se supõe, e
pensar sobre elas é refletir sobre nossa atividade de escritores.
Há
quase um ano venho lidando com as dificuldades e descobertas desse universo da
prosa. Venho arriscando a escrita de dois trabalhos nesse sentido.
Um
deles ainda não tem nome, mas são contos que se passam no bairro de Copacabana
(RJ), onde morei por quatro anos. Todos os contos recebem o nome de músicas,
algumas bem conhecidas, outras um pouco menos, e tento misturar esse universo
do bairro (às vezes belo, às vezes tragicômico) com o clima despertado pelas
canções.
O outro já tem nome: Uma crônica vida interior. São contos que reúnem um pouco de fatos e histórias contados por um narrador que não se identifica muito com essa vida de cidade do interior (“eta vida besta, meu deus”), mas que extrai delas elementos nostálgicos, mas também sombrios e, porque não, também cômicos.
O outro já tem nome: Uma crônica vida interior. São contos que reúnem um pouco de fatos e histórias contados por um narrador que não se identifica muito com essa vida de cidade do interior (“eta vida besta, meu deus”), mas que extrai delas elementos nostálgicos, mas também sombrios e, porque não, também cômicos.
Para
quem sempre se entendeu bem com a tarefa de escrever versos (no sentido de me
sentir confortável, e não no sentido de que sejam lá muito bons os tais
versos), lidar com a prosa tem sido uma tarefa gratificante, mas também árdua.
Primeira
grande dificuldade: a questão da palavra. Ora, a palavra na poesia nunca teve a
mesma função que dela se espera na prosa. A palavra, isolada ou não, é o
instrumento do poeta. É sobre ela que pesa todo seu trabalho, pois é nela que
irá recair toda a atenção do leitor, mais que isso, é o trabalho com a palavra
que vai despertar aquele “fogo original” dentro de nós.
Isso porque as palavras têm peso, cheiro, cor, etc. Se o poeta não liga para isso, talvez seja necessário mais tempo para refletir sobre sua atividade.
Para
o prosador, a palavra funciona como uma peça móvel. Ela, por si só, não tem
peso ou utilidade alguma. Ela só tem função se o seu encadeamento conta algo. Por
isso, um romance, um conto não prende toda sua energia no poder que a palavra
desperta, mas sim na capacidade da palavra com mais outra palavra pintar um
cenário, um comportamento, uma consciência.
Ao
escrever contos, tenho percebido que a mais árdua missão do prosador é manter o
fluxo. Sem isso, não há história a ser contada. Você não pode quebrar o fluxo
de uma narrativa para dirigir a atenção do leitor para os sentimentos, etc. que
uma palavra expressa. Até pode, mas ai então seu leitor estará lendo poesia e
não prosa.
"Nada mais difícil hoje em dia do que contar uma
simples história." (Marcelo Rubens Paiva)
Como diria Marcelo Rubens Paiva, autor do belíssimo Feliz ano velho, nada mais difícil hoje em dia do que contar uma simples história. Isso porque pesa sobre os ombros de qualquer escritor o fato de que antes dele, e bote “antes” nisso, muitos já escreveram sobre aquele tema, usando aquela estratégia narrativa, etc.
Eis minha segunda dificuldade: contar o quê? Se já se falou sobre tudo, se já se usou todas as formas possíveis de se falar sobre tudo, então, sobre que assunto discorrer?
Certa
vez foi perguntado ao ex-beatle Paul Mccartney como ele conseguia compor tanta
música mesmo sabendo que existem/existiram tantos compositores no mundo? Digo,
como sentar ao piano e compor uma canção de amor, se já existem tantas canções
de amor - muitas dele mesmo, inclusive. Como fazer algo melhor ou diferente do
que já existe?
Ler
a sua resposta foi motivador para mim, para que eu não largasse de lado o
desafio de continuar a escrever prosa. Ele disse algo como: “Quando me sento ao
piano, ou pego o violão, eu tento esquecer que existe Beethoven ou qualquer
outro grande gênio da música, eu ignoro
sua existência. Pois se você lembrar que existem esses caras, você não faz nada.
E é preciso um pouco de ignorância
para se criar algo”.
Isso. Sei
que os temas que escolhi, a forma de narrar, os elementos de que me valho, etc.
nada disso é novo. O mais importante é acreditar que se tem algo importante a
dizer, uma história que valha a pena ser contada, enfim.
Cada
um tem suas referências na literatura. No meu caso, penso sempre na narrativa
exuberante de Guimarães Rosa, na poesia estelar de Leminski, por exemplo. Mas
eles não podem ser um peso quando escrevo, uma sombra. Talvez um parâmetro.
Talvez
uma lição que fique para todos nós que fazemos prosa, afinal, é de que as
referências explícitas e implícitas que habitam nossa escrita fazem parte do
processo. Dificilmente aparecerá uma história nunca contada, uma forma
totalmente desconhecida de se narrar algo.
Parafraseando
o ex-beatle, é preciso esquecer momentaneamente nossas referências e buscar
sempre uma escrita própria. Até porque, de toda forma, elas sempre estarão
presentes a cada nova tentativa de se contar uma boa história, uma que valha a
pena ser lida e relida.
(Texto escrito pelo colaborador e autor Eduardo Timbó)
Vou lembrar sempre dessa frase: "é preciso um pouco de ignorância para se criar algo" (amei).
ResponderExcluirExcelente texto!
Abraço.
Otimo texto, e amei ainda mais a frase, também acredito que para se criar algo deve-se ter um pouco de ignorância.
ResponderExcluirExcelente esse texto! Aliás, todos os seus textos são. Você tem talento! :)
ResponderExcluirE realmente, para criar-se algo precisa ter um pouco de ignorância. Gostei muito dessa frase.
Beijos
Lilica
Excelente esse texto! Aliás, todos os seus textos são. Você tem talento! :)
ResponderExcluirE realmente, para criar-se algo precisa ter um pouco de ignorância. Gostei muito dessa frase.
Beijos
Lilica
Esse eu li duas vezes. Não por não ter entendido e sim por querer lembrar de algumas frases desse texto. Você deu uma dica muito valiosa. Isso serve não apenas para escritores de versos e poesias, peguei essas dicas para mim que sou Blogueira e faço resenhas de produtos. Pode existir vários textos sobre aquele produto, então como diz a frase " é preciso esquecer momentaneamente nossas referências e buscar sempre uma escrita própria". E é assim que eu penso! Adorei o texto Eduardo! 👏
ResponderExcluirQue texto maravilhoso! Você falou do uso das palavras e conseguiu explicar perfeitamente as dificuldades de expressar sentimentos e de criar algo que impacte na vida das pessoas! Simplesmente adorei :)
ResponderExcluireventualobradeficcao.blogspot.com
Adorei o post, principalmente essa frase, " preciso um pouco de ignorância para se criar algo."
ResponderExcluirCaraca ... que texto incrível!
ResponderExcluirEstou de cara sem saber como elogiar, sério.
Parabéns, beijos :*
Esse texto me fez refletir muito sobre a questão da escrita,quando produzimos esse tipo de coisa,não nos damos conta do quanto isso nos envolve ou o que exatamente envolve,gostei muito de rever isso.
ResponderExcluirAdorei o texto, é realmente é verdade precisa tee um pouco de ignorância para se criar algo !
ResponderExcluirEstá de parabéns pelo texto!
Amei o texto.
ResponderExcluirE assim comobgosto de prosa de terror e suspense e romance só se tiver esses dois ingredientes rs.
Mas amo poesia, poemas e se intercalados também com uma prosa. Ta perfeito rs
Adorei o texto, a escrita eu acho, ainda é mto difícil de dominar.
Bjs
Amei o texto.
ResponderExcluirE assim comobgosto de prosa de terror e suspense e romance só se tiver esses dois ingredientes rs.
Mas amo poesia, poemas e se intercalados também com uma prosa. Ta perfeito rs
Adorei o texto, a escrita eu acho, ainda é mto difícil de dominar.
Bjs
Excelente texto!! Excelente reflexão! E concordo com a frase.
ResponderExcluir"Precisa de ignorância para criar algo!"
Acho que todos já disseram, mas vou repetir: é um texto incrível, sensacional. Gostei do texto em geral, porém uma parte chamou bastante a minha atenção. Quando se fala da necessidade escrever ou compor música mesmo sabendo da existência de grandes artistas: "E é preciso um pouco de ignorância para se criar algo". Simplesmente sensacional. Parabéns.
ResponderExcluirmeuniversolb.wix.com/meuniverso
Que texto maravilhoso, as frases então, me fez refletir bastante em questão de que quando escrevendo as palavras tem poderes de nós envolver diantes delas sem percebemos, não importa o que estamos escrevendo sempre a um sentimento envolvido.
ResponderExcluirAdorei o texto Eduardo! Realmente "é preciso esquecer momentaneamente nossas referências e buscar sempre uma escrita própria", colocar nossa personalidade na escrita, seja do que for.
ResponderExcluirBeijos :*
By Amanda Santos | Facebook | Instagram
Gostei muito do seu texto muito top. E fiquei com esta frase marcada “A palavra é minha e eu a organizo como bem entender” e bem assim ate quando escrevemos uma postagem. Beijos #Luma
ResponderExcluirMenino, adorei o texto, principalmente o momento que você fala das palavras, realmente elas tem peso, cheiro e cor. Precisa de intimidade, de leveza, hihi :*
ResponderExcluirArrasou no texto guri, muito bem escrito. Adorei mesmo anotei algumas frases que amei no meu caderninho <3
ResponderExcluirGostei muito do texto e já deixei algumas frases anotadas. Arrasou Eduardo. Beijos!!
ResponderExcluirEduardo, parabéns pelo belíssimo texto!!!
ResponderExcluirEu precisava muito ler essa frase exatamente hoje... "É preciso um pouco de ignorância para criar algo." Com certeza a partir de agora vou levá-la para vida! Abraços Sandra Paim @casanovaorganizada
Muito bom quando lemos algo e esse nos ensina, despertar e nos faz sentir capazes, texto lindo Eduardo, forte abraço.
ResponderExcluirCléo @decasalimpa
Ser original pode ser difícil mas é verdade se pensarmos há tantos profissionais de todas as áreas e frustando-se não chegamos a fazer nada.
ResponderExcluirwww.kellyzarate.com
Mais uma vez um ótimo texto postado é uma ótima reflexão, como se diferenciar nos dias de hoje com tantas pessoas fazendo a "mesma" coisa. Quem tem talento jamais cairá na mesmice. Vivi 😘
ResponderExcluirExcelente esse texo .. parabens :D muito original !Aadorei a frase "também acredito que para se criar algo deve-se ter um pouco de ignorância" haha .. Sucesso, Beijos.
ResponderExcluirhttps://criandomeumundo2016.wordpress.com/